Hoje foi publicada no jornal local "O Diário" uma matéria sobre cotas raciais em que o jornal afirma que a cidade é contra esta política afirmativa.
Entretanto questionamos esta reportagem e este posicionamento.
As políticas afirmativas devem ser discutidas abertamente e também o assunto do preconceito e discriminação. Fenômeno que não pode ser negado ou velado.
Leiam a reportagem e também o questionamento que foi feito para esta publicação.
http://www.jornalodiario.com.
Resposta à reportagem feita pela professora formadora Janaina Pitas.
"Após ler a reportagem do Jornal O Diário escrevi um texto em
resposta questionando as fontes e metodologia da pesquisa, as quais não
representam uma maioria e sim a apenas 8 pessoas. Provavelmente meu
texto não será publicado no jornal, pois recebi uma
ligação da jornalista confessando alguns erros e apresentando a
ignorância para outros.
Desse modo segue o link da reportagem do Jornal O Diario e o meu texto abaixo, com o meu posicionamento sobre o assunto."
QUAIS PRIMAVERENSES SÃO CONTRA COTAS RACIAIS?
Janaina Pitas
Professora de História e Mestre em História Social
Centro de Formação de Professores (CEFAPRO/SEDUC)
Questiono a pesquisa relatada pelo jornal O Diário e gostaria
que informasse aos leitores a metodologia e quantitativo dessa pesquisa de rua,
pois me parece tendenciosa quando apresenta apenas um ponto de vista. Digo isso
porque sou Historiadora, pesquisei durante
meu mestrado aspectos culturais no âmbito escolar no município de Primavera
do Leste, onde evidencio as disparidades sociais e diversidade étnico-raciais nesta cidade.
No ano de 2014 desenvolvi um grupo de trabalho com Formação
Continuada para professores (SEDUC), voltado para as Relações Étnico-raciais e
entre os aspectos discutidos e pesquisados em algumas escolas (3 escolas
estaduais) do município percebemos que, em um questionário-diagnóstico, muitos
alunos desconheciam por exemplo porque existe o dia 20 de Novembro (Dia da Consciência Negra), assim como a
história de uma África para além da escravidão. Ao longo desse ano pudemos
ouvir muitas denúncias de preconceito e discriminação em vários espaços dessa
“pacata” cidade interiorana.
Avalio diante das minhas pesquisas, apresentações em
Seminários Nacionais e Estaduais que essa cidade mascara e silencia o peso da
discriminação contra o negro, o indígena, o maranhense, e tantos outros grupos
que foram e são responsáveis pela construção da mesma.
A ignorância em relação à História de luta do negro no Brasil
e na sua importante participação na construção, assim como os efeitos deixados
pela Lei de Terras de 1850, após a escravidão, entre outros fatos históricos é o
que faz com que hoje os mesmos necessitem de uma reparação histórica. Ou alguém
ai acha natural que a maioria do alunado negro compor o número de evasão
escolar? Olhem o mapa da violência no Brasil, e veja qual é o grupo que tem
maior quantitativo nos presídios. Como dizia Marcelo Yuka em sua “música
denúncia”: “a carne mais barata do mercado é a carne negra”. Não podemos esquecer
ou ignorar a história e achar que este cenário é natural.
Desconhecer tais fatos, ao meu ver, é o que faz a mídia e
muitas pessoas reproduzirem o discurso de elite branca que se sente ameaçada e
injustiçada com ações afirmativas (cotas raciais). Não podemos ser ingênuos e
pensar que pessoas que estão a séculos marginalizadas pela sociedade chegarão
em pé de igualdade sem políticas públicas, isso reforça o mito da democracia racial, um discurso
vazio, contestado por dados por meio do IPEA, IBGE e tantas outras instituições
de pesquisa. Sugiro que aqueles que querem conhecer um pouco mais e entender
todo esse processo busquem fontes seguras como o NEPRE (UFMT-Cuiabá), o qual
tem produzido muitas dissertações e teses a respeito.
Precisamos desnaturalizar nosso olhar, procure analisar os
espaços de Primavera do Leste. Será que podemos encontrar o mesmo número de
negros e brancos nas universidades, IFMT, ou em outros cargos e instituições de
prestígio? Se a sua resposta for não, se você perceber que não temos essa tão
sonhada igualdade étnico-racial vá além e se pergunte porquê? Talvez comece a
entender o processo de exclusão e hierarquização que vivenciamos e que por isso
as cotas raciais nos concursos ganharam tanto sentido.
Fonte da imagem: https://umhistoriador.wordpress.com |
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